sexta-feira, 7 de novembro de 2008

POLÍCIA FEDERAL, COBRA COMENDO COBRA, A CONTINUAÇÃO

06/11/2008 - 09h12
DELEGADO FEDERAL PROTÓGENES AFIRMA TER SOFRIDO "VILÊNCIA" EM UMA "TRAMA"

(POR RUBENS VALENTE da Folha de S.Paulo)
O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela própria PF, disse ontem em São Paulo que sofreu "uma humilhação e uma violência" como parte do que chamou de "trama" para "desfocar" as investigações que atingiram o banqueiro Daniel Dantas e o grupo Opportunity.

Em entrevista concedida no mesmo hotel que, pela manhã, havia sido vasculhado pela PF, no centro de São Paulo, Queiroz afirmou que não foi ouvido pelos delegados que conduzem a investigação sobre os vazamentos. "O que me deixa mais indignado é que isso ocorre mais uma vez para desfocar o trabalho principal da Polícia Federal. O alvo principal é a organização comandada pelo senhor Daniel Dantas", disse Protógenes. Indagado se a operação de ontem demonstrava "o poder de Dantas na própria instituição [PF]", o delegado afirmou: "Não tenho dúvidas. Isso mais tarde vai ser revelado".

Protógenes foi questionado se considera a operação de ontem uma "retaliação" às denúncias que fez contra a cúpula da PF. "Sim, isso fica claro, eu não preciso nem falar, os próprios fatos dizem. Uma diligência sem consistência acontece na véspera do julgamento de um habeas corpus [a favor de Dantas] no Supremo Tribunal Federal. E no dia 17 termina o prazo para os arrazoados [defesas] finais das partes da ação penal que está em curso."

O delegado afirmou ter enfrentado problemas no andamento da Operação Satiagraha. "A todo tempo tentaram obstruir. Aí eu não posso apontar a direção-geral, aponto a administração central. Agora, quem ali dentro contribuiu para essa obstrução, quem passava informações para o bandido me seguir, antes, durante e depois, aí não sei. Entendo que essa investigação vai revelar."

Protógenes questionou a razão de o primeiro vazamento da operação, ocorrido em abril, em reportagem publicada pela Folha, e a divulgação, pela direção-geral da PF, de trechos da fita que registrou a reunião que o afastou, em julho, segundo ele não estarem sendo investigados com "o mesmo rigor, a mesma celeridade".

"Se isso estivesse sendo investigado, a cúpula da PF sofreria mandado de busca e apreensão", disse o delegado. "Cadê os suspeitos de envolvimento nessa divulgação desse material? Exijo que isto apareça, que isso seja investigado nesse inquérito". Queiroz disse que os policiais federais levaram ontem documentos, CDs, DVDs e até rascunhos de sua tese de formatura, que tem como tema o inquérito criminal.

Na entrevista, Queiroz leu para os jornalistas uma poesia da jornalista Elisa Lucinda ("Só de Sacanagem") que fala sobre corrupção no Brasil e a esperança "de que vai dar pra mudar o final".
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO

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